sábado, 25 de outubro de 2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A HIPÓTESE DA BIOFILIA - EDUCAR COM A NATUREZA

O tema da afinidade natural entre o ser humano e o seu envolvente natural é posto como hipótese de investigação por Edward Osborne Wilson na sua obra Biophilia (1984), tema que continua em The Biophilia Hypothesis (1993), obra editada com Stephen Kellert. Na esteira do evolucionismo cultural, a hipótese da biofilia de Wilson estabelece a vinculação inata entre o ser humano e as outras formas de vida não-humanas, fruto da co-evolução genes/cultura, e que, segundo o autor, carece de um input constante a partir do meio natural, ou seja, um conjunto rico e diversificado de experiências exploratórias em ambiente natural, que o cérebro humano vem preparado para processar tendo em vista o seu amplo e completo desenvolvimento. Também Stephen Kellert (da área de Ecologia Social) afirma a necessidade de actualização das tendências inatas biofílicas mediante a aprendizagem em contexto natural que contemple a multi-dimensionalidade das funções humanas - a necessidade de conhecimento, o apelo estético, o reforço da afectividade ou a expansão da criatividade e da imaginação. Analisando três formas de contacto com a natureza (directo - envolvimento físico em áreas naturais; indirecto - participação em naturezas planeadas como zoos, jardins botânicos, museus de História Natural; simbólico - representações audiovisuais da natureza), Kellert (2002) considera que apenas a natureza vivida directamente concorre para o pleno desenvolvimento psicossomático e para a formação de uma consciência ambiental. Segundo o autor, tanto o contacto com a natureza em zoos como, sobretudo, a visão passiva de realidades naturais em écrans de televisão carecem de estímulos que desafiem activa e amplamente as capacidades criativas espontâneas que favorecem o comportamento adaptativo. 
 A situação actual se, por um lado, mostra uma diminuição do contacto directo com a natureza de uma geração para outra (um estudo dirigido às mães revela que 71% delas brincaram ao ar livre na infância, contra os 31% das suas crianças que actualmente o fazem), por outro, indica uma progressiva habituação a ambientes ecologicamente degradados (rios poluídos, lixo, desaparecimento de áreas arborizadas na vizinhança) . 
Com efeito, a sociedade urbana, hoje em dia, opta cada vez mais por formas de contacto simbólico com o ambiente natural, mediante o qual a criança configura representações formais e supervisionadas de uma natureza meramente virtual, num processo de «extinção» da experiência que parece correr em paralelo com a extinção global da biodiversidade. E, embora, um leque amplo de literatura especializada, escorada em investigações que contemplam inúmeros casos-de-estudo, aponte com reincidência os benefícios das afiliações positivas com a natureza no bem-estar cognitivo, psicológico, emocional e espiritual dos seres humanos, o progressivo empobrecimento e destruição do ambiente continua e concorre perigosamente para a destruição da maturação bem sucedida das aquisições e construções psicológicas da criança. Para o psicólogo Peter Kahn a resolução de toda a problemática implicada nesta «amnésia geracional» de ambientes naturais ricos e biodiversos começa, justamente, pela própria infância: "Precisamos de comprometer as crianças numa educação ambiental construtivista a fim de maximizar a exploração e a interacção com a natureza que ainda existe ao seu alcance - insectos, animais domésticos, plantas, árvores, vento, chuva, solo, sol".
  Kellert sublinha o facto de ainda não se conhecerem, na sua total amplitude e a longo-prazo, os efeitos na maturação psico-cognitiva infantil de quotidianos pobres em estímulos apropriados e com escassas oportunidades de experiência directa no mundo natural. Pergunta Kellert, poderá o reforço substancial dos contactos indirectos ou simbólicos com a natureza substituir e, até, compensar a perda acelerada dos arrabaldes naturais próximos das habitações? O extraordinário aumento da informação tecnológica que proporciona o acesso a realidades naturais distantes e exóticas, ou o constante aperfeiçoamento no design de zoos e similares tendo em vista recriacções ‘fidedignas’ do habitats originais constituirão uma vantagem geracional efectiva? Até agora, as investigações que procuram dar resposta a estas questões têm mostrado que os efeitos positivos no conhecimento pessoal das realidades naturais experienciadas de forma indirecta são transitórios e raramente contribuem de forma significativa para o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança, talvez porque, como afirma Robert Pyle, as crianças necessitam de espaços livres para jogar às escondidas, subir uma árvore, trepar as rochas, descobrir atalhos por entre o matagal. O contacto directo com os seres vivos (amoras, mirtilos, morangos, insectos, aves e mamíferos) e físicos (ar, solos, águas, rochas), afecta a criança de um modo que nenhuma experiência simbólica pode substituir. Porque a riqueza dessa relação estrutural modela e amplifica toda a riqueza multi-dimensional humana: o sentir em toda a sua gama de cambiantes (espanto, aversão, atracção, medo, afecto), o pensar (curioso, experimentalista ou meditativo), o comunicar, o criar. «Falta hoje um sentido generalizado de intimidade com o mundo vivo»; uma intimidade que se funda na sensibilidade originária, participativa e comprometida com o mundo natural, desencadeada pela experiência viva e plena de alegria que todos sorvemos do seio da natureza e que, sem dúvida,  concorrerá para a modelação de uma «vontade boa» capaz de agir em prol da natureza e das realidades não-humanas. 

 Maria José Varandas - excerto do artigo, “EDUCAR NA NATUREZA: A via de harmonização da sensibilidade e da moralidade na formação de uma consciência ambiental”, em pré-publicação na KAIROS, JOURNAL OF PHILOSOPHY AND SCIENCE, LISBOA: CENTRO DE FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS DA U. LISBOA

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Direito e Justiça Ambiental , LUCIANO ALVARENGA et al.

Um e-book composto de artigos que se centram na problemática ambiental sob o seu aspecto jurídico. Fundamental para professores, estudantes e para o cidadão consciente do grau de ameaça da crise ecológica: https://www.academia.edu/7480233/Direito_e_justica_ambiental_dialogos_interdisciplinares_sobre_a_crise_ecologica