Aldo Leopold o belo natural e o bem
"Um olhar de relance pelas teses de eticistas na
esteira de Leopold (Callicott, Rolston, Hargrove, Sagoff, entre outros),
descobre sem esforço a sua crença na relação íntima entre a estética e a
ética ambientais. Com efeito, quando Leopold afirma que «algo é bom quando
tende a preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade
biótica» condensa
diferentes planos (ecológico, estético, moral) num mesmo horizonte de
significado – se a beleza se impõe como presença no mundo, ela deve
constituir-se, por isso, como fundamento de moralidade, um imperativo do agir.
A leitura do Sand County Almanac sugere-nos que os eixos cardinais da ética da
terra - equilíbrio, integridade e beleza - constituem um cluster, uma unidade de itens correlacionais, agregados de modo em
que a beleza natural se perspectiva como configuração expressiva da integridade
e equilíbrio da natureza. Neste sentido, o belo natural surge, na obra de Leopold,
como manifestação tangível da «saúde» dos ecossistemas a uma dada escala
espácio-temporal, que o ser humano deve preservar e amar. ... A presunção da correlação entre os valores ecológicos, os
valores estéticos e os valores éticos guia a escrita do Sand County, como se a beleza do mundo natural, a sua presença
irradiante e multiforme, se impusesse ao homem e ao agir, não como obrigação,
mas como doação pródiga que incita aos sentimentos de amor e de cuidado,
convidando ao bem ou, o que é o mesmo, à preservação dos equilíbrios naturais." Maria José Varandas, excerto traduzido de: